quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Chapada dos Veadeiros - Somewhere over the raibow




Minha aventura começa em Alto paraíso, o portal de entrada da Chapada dos Veadeiros, uma cidade com aproximadamente 7.000 habitantes e que é considerada o coração da Chapada. . A população anda nas ruas vestindo batas e usam cristais e outros patuás pendurados no pescoço e em outras partes do corpo. Alguns moram nas chamadas casas de veadeiros que parecem bolas, iglus, pirâmides, gotas e outras formas mais. Existem muitas lojinhas que vendem cristais, pedras semi-preciosas e fazem atendimento utilizando diversas terapias holísticas.


Conheci várias pessoas que juraram de pés juntos que já tinham visto discos-voadores, aliás, todo o povo da região parece viver no mundo da lua, ou pelo menos algo bem próximo das estrelas.


Você sente as diferença logo que vai chegando na cidade, músicas New Age, Raul Seixas com a música do disco voador e Zé Ramalho com a música mistérios da meia-noite e muito reggae é claro. As pessoas conversam de chacras e outras coisas astrais como qualquer assunto corriqueiro, muito engraçado.


O que mais goste lá foi a trilha na fazenda lokinhas, ou melhor lá encontrei o que achei mais belo em toda a Chapada dos Veadeiros, diversas piscinas naturais que tinham as águas mais cristalinas e belas que já vi em toda minha vida. As águas tinham cores que variavam entre o azul turquesa e esmeralda. Eu como qualquer mineiro apaixonado por cachoeiras, já visitei centenas de quedas que vão desde as de dentro do país até algumas no exterior. Mas o que presenciei ali me deixou completamente extasiado. De uma beleza rara e tão fora do comum que transcende minha mente e não tenho palavras para explicar. O nome lokinhas vem de pequenas locas ou cavernas que existem tanto escondidas pelas quedas das cachoeiras quanto em vários terrenos da fazenda. A fazenda tem esse nome desde o século XIX. A trilha tem mais de 1 km e é praticamente toda feita de madeira suspensa sobre a vegetação e conta com uma ponte suspensa para atravessar o córrego, o que auxilia na preservação do ecossistema e ajuda a facilitar o acesso de crianças e idosos. As águas convidam para um banho e nos transmitem uma paz incrível que só então me fez entender o porquê da Chapada ser considerada um verdadeiro oásis espiritual. Nadar naquelas águas cristalinas foi uma experiência incrível e visitar aquele santuário me transbordou a sensação de gratidão pela vida.


Um meio de transporte bastante utilizada na Chapada são os moto táxis.


Em Alto Paraíso existem programas que vão de meditação até esportes radicais, é só escolher qual é sua tribo.


De lá parti para São Jorge, um povoado que não chegava a trezentos habitantes. Eu iria pegar um ônibus, mas um dos moradores me disse que estava indo pra lá também e acabei pegando uma carona com ele. Conclusão, ganhei um guia turístico local. Durante o pequeno percurso ele foi me explicando sobre todos os morros e paisagens típicas da chapada, mostrou-me onde estava localizado o Jardim de Maytrea. Ele parou, descemos do carro e ficamos ali por um tempo admirando a paisagem, ele continuava me dando explicações sobre tudo e sobre todos os centros energéticos do local, mas por um tempo minha mente divagou e eu só fiquei viajando no lugar, não conseguia prestar atenção em uma só palavra do que ele me dizia, e na verdade nem fazia questão, o lugar parecia falar por si mesmo, dispensava palavras. E imaginar que antes de descer do carro não tinha achado nada demais no Jardim. Percebi que as experiências espirituais vivenciadas na chapada emergem do nosso interior e não têm nada haver com qualquer relação religiosa. Depois de um tempo ele me cutucou e disse que tínhamos que ir. Por mim eu ficaria naquele lugar por mais um bom tempo, mas tínhamos que ir né?!



Chegando no povoado, procurei por hospedagem e vi que tinha desde uns dormitórios bem simples por R$10,00 até pousadas mais luxuosas. Fiquei hospedado no albergue Casa da Sucupira.O legal dos albergues é que eles sempre costumam ter várias atividades internas pra unir ainda mais a galera, almoços, jantares, sessões de filme e longos bate papos. Sempre gostei do clima familiar e cosmopolita que existe neles. Um ótimo lugar pra fazer novas amizades e conhecer gente de todas as partes do mundo. Depois que conheci um na Argentina, não troco por hotel de jeito nenhum.



O por do sol do cerrado é pura magia, um espetáculo a parte cada vez que o dia se vai. A noite chega e começam os papos místicos sobre disco voadores no albergue. Eu nunca vi um céu tão belo em toda a minha vida, o céu tão límpido e forrado de estrelas. As pessoas dizem que o local é o maior ponto de observação de discos voadores do planeta porque a chapada é o ponto mais luminoso do planeta e ainda por cima está assentado sobre uma placa de quartzo enorme. Pra aumentar ainda mais o motivo dos místicos a chapada encontrasse no mesmo paralelo que Machu Picchu. Em uma das noites vimos um ponto luminoso se movendo no céu, alguns ficaram eufóricos, mas logo o dono do albergue disse que se tratava de um satélite, pois tinha movimentos lineares. O papo rolava durante horas e o tema era sobre a existência de discos voadores. Alguns dos hóspedes juravam que já haviam visto e outros até de que conheciam casos de pessoas que já foram abduzidas, ou seja, se você um dia quiser ver um disco voador vá para a Chapada, não garanto que você verá, eu mesmo não vi nenhum, mas os moradores e visitantes afirmam que ali as chances são bem maiores.


Fiz duas trilhas no Parque Chapada dos Veadeiros, essas trilhas precisam de guias que custam R$ 60,00 por dia e podem ser pago pelo grupo que é previamente montado ou formado lá na porta do parque mesmo, como foi o meu caso. Nas trilhas você tem a oportunidade de ver a flora típica do cerrado, árvores de formas sinuosas e tortas, buritis, bromélias, orquídeas e uma infinidade de plantas, dentre elas a que considero a jóia do cerrado, Paepalanthus, ou chuveirinho como é popularmente chamada. Em meio da vegetação você faz uma trilha ouvindo sons de pássaros e insetos. Os mais frequentemente avistados foram os periquitos reis e as gralhas que faziam um barulho enorme quando nos aproximávamos. Mas com sorte você pode avistar um tamanduá ou até mesmo uma onça pintada. Mas o que eu vi foi paca, tatu, carcará e siriemas.


A primeira trilha nos leva até os saltos do Rio Preto, uma cachoeira com 80 e outra de120 metros. Eram majestosas e nadamos também no rio junto de vários peixes regionais. Depois por último, fomos até as corredeiras que são cascatas menores que nos permitem ficar debaixo delas sentindo suas águas caírem com pressão sobre o corpo massageando-o.


A segunda trilha nos leva até o cânion e a cachoeira Carioquinhas, lá tem bombeiros e guias que lhe informam onde você pode dar saltos sem correr riscos, a experiência foi demais.

Conheci o Vale da Lua que é fora do parque e apresenta formações rochosas maravilhosas e que foram esculpidas pelas águas em milhares de anos, e ainda tem piscinas naturais fantásticas para um banho. O nome é justamente devido ao fato de parecer que você está pisando em solo lunar. O lugar é lindo e aconselho simplesmente sentar em qualquer uma das pedras e apreciar a paisagem a sua volta.

Fiquei triste apenas quando falei com o dono do albergue que não queria ir embora porque ainda não havia conhecido tudo. Ele respondeu que se me consolar, ele mora ali a anos e também não conhece tudo, a chapada é enorme e cheia de surpresas


Voltei de carona com alguns amigos que fiz no próprio parque da Chapada e pra fechar a viagem com chave de ouro tinha um arco-íris maravilhoso no caminho. Se isso foi coincidência ou sincronicidade eu não sei, mas assim realmente tenho que concordar com os místicos em uma coisa, a Chapada é um pedacinho do paraíso.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Arequipa - "Sim, ficamos!"



Arequipa localiza-se no sul do Peru, a 2300 metros de altitude, e está rodeada por vários picos, dentre eles o vulcão Misti, com cerca de 5.822 metros de altitude.


Arequipa não estava em meus planos, foi uma parada forçada que tive que fazer pra usar uma lavanderia. Vida de mochileiro é assim, levamos pouca bagagem e por isso precisamos fazer algumas paradas para usar lavanderia, reabastecer com alguns biscoitos, descarregar cartão de memória ou coisas do tipo. Tinha saído do Chile que tinha um preço exorbitantemente caro, pelo menos essa era a sensação que tive assim que cheguei no Chile depois de passar alguns dias na Bolívia. A idéia era ir de Arica (Chile) até Cusco (Peru), onde estaria minha atração favorita, Machu Picchu. Mas como todo mochileiro, aprendi que as cidades turísticas são sempre mais caras. Por isso decidi parar em Arequipa, onde me disseram que era uma cidadezinha com boa infra-estrutura, mas com preços bem mais baixos do que Cusco.

Cheguei na cidade e desci do ônibus, era aproximadamente umas três horas da manhã e por minha sorte haviam taxistas na rodoviária. Paguei pouco mais que 1 dólar pra ele me levar a um hotel que consegui o endereço em um guia de viagem. Chegando lá estava lotado. O taxista então me indicou outro hotel que por sinal era melhor e mais barato. No início fiquei desconfiado, mas logo vi que ele só queria ajudar. Os peruanos são sempre muito hospitaleiros e dispostos a ajudar. No caminho para o hotel vi que a cidade era linda, pedi a ele para parar o carro enquanto eu sacava fotos, a cidade estava deserta, mas era tudo muito lindo. Daí ele viu que eu estava gostando e foi explicando sobre a arquitetura local, estava tão encantado com o local que nem prestei muita atenção no que ele dizia, só guardei que tudo era construído com rocha vulcânica abundante no local e que tinha cor branca.



Voltei para o hotel e fui falar sobre o que realmente me interessava naquela cidade, lavar minhas roupas para prosseguir viagem. O atendente do hotel me disse que só poderia lavar as roupas pela manhã e que todas seriam lavadas na mão e portanto só poderia me entregar no outro dia às 10:00 da manhã, ou seja, teria que dormir outra noite além dessa. Sem outra opção concordei e fui dormir.


Acordei, tomei meu café da manhã e fui explorar a cidade, para meu espanto era uma cidade maravilhosa, com uma belíssima arquitetura espanhola. Perguntei-me porque aquela cidade quase não era citada nos guias turísticos, havia uma diversidade enorme de passeios. Os cenários poderiam variar entre oceano, deserto, vales, montanhas, vulcões e cânions, tudo isso em uma pequena distância entre eles. A única coisa que dizem é que é a cidade mais próxima do Cañon del Coca, um dos mais profundos do mundo. Mas não, aquela cidade era muito mais do que isso, estava rodeada por três vulcões, dentre eles El Misti, o mais famoso.


Uma das coisas que reparei é que algumas construções tinha uma inclinação e deixava tudo torto, pensei: “Que engenheiro mais estúpido foi quem construí isso daqui? ”. Não me contive de curiosidade e perguntei para um dos nativos que estavam próximos. Ele me respondeu que era daquela maneira porque a cidade tinha terremotos com freqüência e o prédio sendo construído naquela inclinação, não permitia que o prédio desabasse. Pensei: “Que bom que ele não sabe que eu pensei que o engenheiro era estúpido, pois o único ignorante ali era eu”. Aprendi mais essa, essa mania que temos de ver tudo de acordo com o que achamos que é e não como as coisas realmente são deve ser um dos maiores problemas da humanidade. Conversando com esse mesmo nativo perguntei qual era a origem do nome da cidade, ele disse que vem dos incas, que quando viram a beleza da cidade disseram “ari qquepay”, que quer dizer “sim, ficamos”


No parque vi uma llama pela primeira vez e achei o bichinho bem divertido, mas ela era um pouco brava e ameaçava cuspir em quem chegasse muito perto. Depois vi várias outras.



Visitar aquela cidade me fez perder a noção do tempo e só percebi quando meu estômago gritava pedindo alimento. Parei na primeira pizzaria para comer logo. A pizza era maravilhosa, fiquei realmente impressionado, só depois fiquei sabendo que em Arequipa estava a melhor comida do Peru. Comecei então o que hoje chamo de city tour gastronômico, parei em outro lugar para experimentar outras comidas e pra falar a verdade já era uma diversão ouvir aquelas mulheres na porta dos restaurantes explicando o cardápio, meu espanhol não era dos melhores e elas tinham que explicar cada ingrediente para descobrir do que se tratava o prato. Lembro que em um dia fiz aproximadamente 6 refeições. Comi carne de Alpaca (parente da llama), truta na pedra (como os incas comiam), tortas doces maravilhosas, salada de frutas frescas, tomei chá de ervas aromáticas e muito mais.



No final do dia lembrei que estava ali só pra lavar as roupas, mas tive a sensação de que se a viagem acabasse ali mesmo já teria valido a pena. E eu que havia pensado que iria que perder dois dias de viagem, descobri que ganhei foi muita diversão e saí com a certeza que um dia eu voltaria, mas dessa vez para dizer como os incas, “ari qquepay”, e com bastante tempo pra aproveitar tudo que ela tem pra oferecer.