terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Arequipa - "Sim, ficamos!"



Arequipa localiza-se no sul do Peru, a 2300 metros de altitude, e está rodeada por vários picos, dentre eles o vulcão Misti, com cerca de 5.822 metros de altitude.


Arequipa não estava em meus planos, foi uma parada forçada que tive que fazer pra usar uma lavanderia. Vida de mochileiro é assim, levamos pouca bagagem e por isso precisamos fazer algumas paradas para usar lavanderia, reabastecer com alguns biscoitos, descarregar cartão de memória ou coisas do tipo. Tinha saído do Chile que tinha um preço exorbitantemente caro, pelo menos essa era a sensação que tive assim que cheguei no Chile depois de passar alguns dias na Bolívia. A idéia era ir de Arica (Chile) até Cusco (Peru), onde estaria minha atração favorita, Machu Picchu. Mas como todo mochileiro, aprendi que as cidades turísticas são sempre mais caras. Por isso decidi parar em Arequipa, onde me disseram que era uma cidadezinha com boa infra-estrutura, mas com preços bem mais baixos do que Cusco.

Cheguei na cidade e desci do ônibus, era aproximadamente umas três horas da manhã e por minha sorte haviam taxistas na rodoviária. Paguei pouco mais que 1 dólar pra ele me levar a um hotel que consegui o endereço em um guia de viagem. Chegando lá estava lotado. O taxista então me indicou outro hotel que por sinal era melhor e mais barato. No início fiquei desconfiado, mas logo vi que ele só queria ajudar. Os peruanos são sempre muito hospitaleiros e dispostos a ajudar. No caminho para o hotel vi que a cidade era linda, pedi a ele para parar o carro enquanto eu sacava fotos, a cidade estava deserta, mas era tudo muito lindo. Daí ele viu que eu estava gostando e foi explicando sobre a arquitetura local, estava tão encantado com o local que nem prestei muita atenção no que ele dizia, só guardei que tudo era construído com rocha vulcânica abundante no local e que tinha cor branca.



Voltei para o hotel e fui falar sobre o que realmente me interessava naquela cidade, lavar minhas roupas para prosseguir viagem. O atendente do hotel me disse que só poderia lavar as roupas pela manhã e que todas seriam lavadas na mão e portanto só poderia me entregar no outro dia às 10:00 da manhã, ou seja, teria que dormir outra noite além dessa. Sem outra opção concordei e fui dormir.


Acordei, tomei meu café da manhã e fui explorar a cidade, para meu espanto era uma cidade maravilhosa, com uma belíssima arquitetura espanhola. Perguntei-me porque aquela cidade quase não era citada nos guias turísticos, havia uma diversidade enorme de passeios. Os cenários poderiam variar entre oceano, deserto, vales, montanhas, vulcões e cânions, tudo isso em uma pequena distância entre eles. A única coisa que dizem é que é a cidade mais próxima do Cañon del Coca, um dos mais profundos do mundo. Mas não, aquela cidade era muito mais do que isso, estava rodeada por três vulcões, dentre eles El Misti, o mais famoso.


Uma das coisas que reparei é que algumas construções tinha uma inclinação e deixava tudo torto, pensei: “Que engenheiro mais estúpido foi quem construí isso daqui? ”. Não me contive de curiosidade e perguntei para um dos nativos que estavam próximos. Ele me respondeu que era daquela maneira porque a cidade tinha terremotos com freqüência e o prédio sendo construído naquela inclinação, não permitia que o prédio desabasse. Pensei: “Que bom que ele não sabe que eu pensei que o engenheiro era estúpido, pois o único ignorante ali era eu”. Aprendi mais essa, essa mania que temos de ver tudo de acordo com o que achamos que é e não como as coisas realmente são deve ser um dos maiores problemas da humanidade. Conversando com esse mesmo nativo perguntei qual era a origem do nome da cidade, ele disse que vem dos incas, que quando viram a beleza da cidade disseram “ari qquepay”, que quer dizer “sim, ficamos”


No parque vi uma llama pela primeira vez e achei o bichinho bem divertido, mas ela era um pouco brava e ameaçava cuspir em quem chegasse muito perto. Depois vi várias outras.



Visitar aquela cidade me fez perder a noção do tempo e só percebi quando meu estômago gritava pedindo alimento. Parei na primeira pizzaria para comer logo. A pizza era maravilhosa, fiquei realmente impressionado, só depois fiquei sabendo que em Arequipa estava a melhor comida do Peru. Comecei então o que hoje chamo de city tour gastronômico, parei em outro lugar para experimentar outras comidas e pra falar a verdade já era uma diversão ouvir aquelas mulheres na porta dos restaurantes explicando o cardápio, meu espanhol não era dos melhores e elas tinham que explicar cada ingrediente para descobrir do que se tratava o prato. Lembro que em um dia fiz aproximadamente 6 refeições. Comi carne de Alpaca (parente da llama), truta na pedra (como os incas comiam), tortas doces maravilhosas, salada de frutas frescas, tomei chá de ervas aromáticas e muito mais.



No final do dia lembrei que estava ali só pra lavar as roupas, mas tive a sensação de que se a viagem acabasse ali mesmo já teria valido a pena. E eu que havia pensado que iria que perder dois dias de viagem, descobri que ganhei foi muita diversão e saí com a certeza que um dia eu voltaria, mas dessa vez para dizer como os incas, “ari qquepay”, e com bastante tempo pra aproveitar tudo que ela tem pra oferecer.

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